quinta-feira, 3 de março de 2011

BRUNA SURFISTINHA - Vergonha nacional ou cultura?


Como professora gosto de iniciar a aula descontraindo, escutando o que meus alunos fizeram em seu fim de semana e isso pra mim é bom, pois nos aproxima mais como seres humanos.
O assunto de hoje numa de minhas salas foi “Bruna Surfistinha” o filme, e eles não são mais tão crianças já tem opinião formada, e foi uma delicia escutá-los, fiquei orgulhosa em constatar que meus alunos estão amadurecendo e aprendendo a separar o que é acréscimo e que é decréscimo.
Alguns assistiram ao filme citado. Como? Não sei, por que a censura é para 16 anos e eles agora que estão completando quinze, mas isso não vem ao caso, o fato é que nenhum deles, na hora do “falar sério”, aprovaram o que viram, até concordaram que a atriz era ótima, que o enredo foi bem elaborado e dirigido, que as cenas os animaram, porém concordaram que o conteúdo não merecia tanta atenção, muito pelo contrário é algo preocupante e que a situação deveria ser revertida.
O Brasil é um dos vários países que sofrem com o tráfico sexual em nossos litorais, que enfrenta o problema da prostituição entre nossas garotas de classe média e baixa, e ai vem um filme que passa uma história glamourosa desse sub-mundo?
Não assisti, e nem era de meu direito ficar aqui falando deste assunto, mas o relato de meus alunos me chamou a atenção, e não acredito que eles estivessem mentindo acerca do que viram. Ai pensei, é para isso que chegamos até aqui? Que enfrentamos a repressão de 64, que provocou um novo rumo ao cinema novo de 60, que por sinal de tão bom já nasceu lançando um novo olhar sobre o papel do cinema junto à sociedade? Fato que não era pautado nem mesmo pela famosa Hollywood?
Eu andava até orgulhosa de nossas ultimas produções, tais como Carandiru, Central do Brasil, O que é isso companheiro, Zuzu Angel, Olga, e por que não Tropa de elite 1 e 2, filmes que denunciaram a situação vivida em diversos setores, até então desconhecidos por muitos brasileiros, mas ai vem Bruna Surfistinha, um filme que poderia sim ter sido produzido, por que não, porém o que me incomodou foi a mobilização sobre ele, 350 salas foram disponibilizadas em todo Brasil, para garantir que ninguém ficasse sem dar uma espiadela e tudo isso para um enredo sustentado por uma ótima atriz e por muitas cenas de sexo.
A que ponto chegamos, ao mesmo tempo em que banalizamos a situação de muitas garotas que recorrem a tal alternativa de vida, aplaudindo um filme que coloca a situação como algo fácil de se encarar, já que a personagem atente mais de 30 homens sem pestanejar logo no inicio de sua carreira, passamos uma idéia errôneo de tal prática as nossas garotas sobre a dificuldade e o perigo dessa profissão.
Que é um drama, disso eu sei. Que a verdadeira história vivida não deve ter sido fácil , com toda certeza, mas daí jogar pó de pilimpimpim e colocar na tela como se fosse um conto de fadas, incomoda.
Já pensou quantas Bruninhas vão surgir pelo Brasil afora, querendo repetir a dose? E quem é que vai estar lá quando elas derem com a cara no muro, ou acabar duras em uma vala, ou no exterior como escravas sexuais de maníacos, e seus filhos, quem vai alimentá-los, por que se você abre a fábrica um dia o produto sai. É essa minha preocupação, vejo todos os dias comportamentos mudados pela mídia, pequenos projetos de adultos que copiam tudo que curtem e acham descolado, e com este novo beste-seller na praça não vai ser diferente, mas agora o leite já está derramado.


E vocês o que acham?
Se assim desejarem, deixem também sua opinião.
Mara Vicente.

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